sábado, 30 de março de 2013

Demissões e juros altos é política neoliberal


Escrito por: Vagner Freitas, presidente Nacional da CUT


A recente declaração da presidenta Dilma Rousseff, de que não concorda com políticas de combate à inflação baseadas em redução do crescimento econômico, intensificou as tentativas de setores da mídia e do mercado financeiro de impor a agenda de defesa de contenção do consumo interno e do crédito e do aumento de demissões e das taxas de juros, derrotada nas eleições.
Ao contrário do que foi divulgado, a declaração da presidenta se baseia nas projeções do Banco Central de que o IPCA – IBGE irá atingir índices próximos de 5,7% em dezembro de 2013 (informação divulgada pelos meios de comunicação no dia 27 de março de 2013), ou seja, inferior ao verificado no ano anterior. Portanto, em nenhum momento se considerou que a inflação do ano ultrapassaria o teto de 6,5% definido pelo regime de metas de inflação.
Além disso, a experiência de aumento da taxa de juros para combater um “possível descontrole inflacionário”, no início de 2011, desestimulou o crescimento econômico, que só voltou a dar sinais de recuperação nos últimos 2 meses. Um aumento de juros, como defende o mercado financeiro, além de eficácia duvidosa, carrega um alto custo social e econômico e pode abortar as expectativas de crescimento para este ano.
A CUT acredita que uma política de elevação das taxas de juros atenta contra o desenvolvimento sustentável, gerador de emprego e renda, reduz o mercado interno, encarece o crédito e serve apenas aos interesses do capital especulativo. A natureza recente da inflação, concentrada principalmente nos preços dos alimentos e dos impactos sazonais de correções dos preços administrados (como tarifas de transporte, entre outros), muitos comuns no início do ano, tendem a se dissipar no decorrer do ano. Ambos os fatores não têm qualquer relação com uma “pressão de demanda” na economia brasileira. Ou seja, um aumento de juros causará redução da economia, do emprego, dos salários e na demanda interna.
Aumentar os juros significa aumentar as despesas públicas, uma vez que aumenta sua conta financeira (seus gastos com juros da dívida). A saída mais eficiente é a ampliação dos investimentos em infraestrutura e redução das desigualdades sociais.
Por fim, a CUT defende que medidas como a desoneração dos itens da cesta básica também devem incluir impostos estaduais e municipais; que deve haver uma atuação da Companhia de Nacional de Abastecimento (CONAB) mais presente através de estoques reguladores para estabilização dos preços ao consumidor. E mais: não se pode deixar de dar atenção aos crescentes movimentos de concentração de mercado ocorridos no país (através de fusões e aquisições, que ocorre via Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE), principalmente no que diz respeito ao poder de mercado e dinâmica de preços. Além disso, a CUT defende a desindexação de contratos e tarifas públicas.
Todas estas medidas seriam mais eficientes para conter a inflação sem interromper o processo de crescimento que se desenha para 2013 porque atuaria em fontes estruturais do processo inflacionário, o que proporcionaria uma eficácia muito maior em seu combate do que o velho (e falso) dilema entre crescimento econômico ou estabilização, presente há muito tempo no centro do debate de política econômica do país, mas que interessa apenas a uma diminuta (e especuladora) parte dos agentes econômicos.
Por tudo isto, a CUT apoia a declaração feita pela presidenta Dilma Rousseff  nesta quarta-feira (27), em Dubai, durante a reunião dos BRICS, de que não concorda com medidas de desaquecimento da economia para combater a inflação.
São Paulo, 28 de março de 2013.

Eleições e democracia: como a mídia golpista falseia os fatos


Artigo de Paulo Cannabrava Filho denuncia como os grandes conglomerados privados de comunicação manipulam para impor uma visão unilateral

Escrito por: Paulo Cannabrava Filho

No enfoque dos diferentes processos eleitorais, palavras como democracia, ditadura, popular, populismo, opressão, liberdade de imprensa e censura, perdem totalmente seus significados etimológicos e são manipulados para confundir as mentes e impor uma visão unilateral dos fatos
PAULO CANNABRAVA FILHO*
Atualmente e não tão recentemente, têm havido eleições em várias partes do mundo e chama a atenção como os meios de comunicação tratam a cobertura desses eventos, seja no aspecto mídia-espetáculo, seja no aspecto conceitual, o que é muito mais importante.
O que mais salta à vista é o diversionismo ideológico explícito no enfoque desses diferentes processos eleitorais. Palavras como democracia, ditadura, popular, populismo, opressão, liberdade de imprensa, censura, perdem totalmente seus significados etimológicos e são manipulados para confundir as mentes e impor uma visão unilateral dos fatos. Um ato de guerra contra uma população desarmada, por exemplo, é terrorismo, contudo, na mídia os terroristas são as vítimas da agressão imperial.
Fica no ar a dúvida: o que é uma democracia? A de Atenas ou de Roma? A do Reino Unido ou da Itália? A dos Estados Unidos ou de Cuba?
É preciso refletir, repensar a democracia desde seus primórdios históricos. A queda da monarquia (e nem todas as monarquias caíram) deu lugar à criação de um sistema eleitoral que contivesse as massas oprimidas e assegurasse a hegemonia para a nova classe emergente.
O poder monárquico se confundia com o poder da Igreja de Roma, para garantir a sobrevivência da hegemonia ameaçada com atomização dos Impérios, desde Roma até os atuais. E nesse contexto a Igreja de Roma se configura como o mais antigo e poderoso dos conglomerados empresariais transnacionais.
Vale a pena uma reflexão, e o fazemos com intuito provocatório, sobre alguns dos processos eleitorais em evidência ou não tão em evidência na mídia.
VENEZUELA BOLIVARIANA
Desde 1999 a Venezuela já realizou 16 eleições de acordo com as regras que tipificam a chamada "democracia ocidental e cristã" com participação massiva da população. O ex-presidente Carter e outros observadores de peso, admitiram publicamente que o processo eleitoral venezuelano é o mais limpo e democrático. Ele não poderia falar nada diferente, pois é o tipo de eleição que seu país quer impingir ao mundo. Não obstante, como não deu resultado o marketing político e a campanha publicitária bilionária dos partidos tradicionais e foi eleito um adventício, ou seja, um de fora da corte, o governo legalmente eleito foi todo tempo demonizado.
Se tivesse sido eleito um oligarca branco ou um caboclo servil seria apresentado pelos meios como exemplo da democracia em nossa América. Mas, como foi eleito um caboclo, de origem humilde, é exemplo de populismo, de demagogia, de ditador castro-comunista. Só não acusaram Chávez de comedor de criancinhas.
Em abril a Venezuela realizará novas eleições para a presidência. Se eleito Maduro terá sido eleito por utilização da máquina governamental. Se Caprilles for eleito (quase impossível) será por manifestação democrática. E já não faltam os que estão semeando discórdia acusando Maduro de violar a Constituição, o que não é verdade.
Se a expressão das massas populares se transforma em força política, os conservadores entram em pânico por que se lhes fecha o caminho de retorno e reconstrução da hegemonia.
No caso da Venezuela não há dúvida de que o que sustentou Chávez 14 anos no poder foi a força política dessa expressão das massas. As fotografias e os audiovisuais sobre as manifestações de pesar pela morte de Chávez deixa ver nitidamente a cor da pele e a dimensão dessa multidão. Não obstante, a mídia dos conservadores trata por todos os meios desqualificar, demonizar essa democracia, por causa daquilo que ela tem de melhor: é popular, de massas.
Fato novo da Nossa América, os meios conservadores já não conseguem convencer às grandes massas, pois estas adquiriram saber, têm opinião própria, reconhecem a seus líderes e não se deixam mais conduzir pelos arautos do Apocalipse. Quase todos os meios impressos venezuelanos são de oposição. A televisão e as rádios ainda têm grande importância, mas, ao assumir um combate insano contra um governo e um líder que é do agrado das massas, perderam credibilidade. Paralelamente, surgem meios públicos e estatais de comunicação, porém, não vinculados a uma estratégia de comunicação revolucionária.
Sabiamente, a Revolução Bolivariana deu voz aos bairros organizados através das rádios comunitárias. E estão surgindo informativos impressos alternativos, além dos foros de discussão sobre o processo bolivariano por toda parte.
Isso não aparece nos meios, como tampouco aparecem as conquistas da Revolução, tais como: a erradicação do analfabetismo; nenhuma criança fora da escola; é o 5º país do mundo com maior taxa de matrícula escolar e universitária; saúde gratuita para todos; construção de 8.500 hospitais, etc.
Dados da ONU confirmam que, antes de Chávez, a Venezuela tinha 70% de pobreza, com 40% de pobreza extrema. Hoje a pobreza está em torno de 26% e a pobreza extrema foi reduzida para 6%. A inflação, que era de 103%, está hoje em 22,8%.
Tudo isso foi alcançado a duras penas, com erros e acertos. Os críticos apontam tão somente os erros e reclamam de ineficiência do setor produtivo. Se esquecem de que também em seus países os obstáculos para o desenvolvimento são os mesmos: ausência de infraestrutura, ausência de uma base produtiva prévia, ditadura do capital financeiro, e, fundamente, ausência de mão de obra qualificada.
IGREJA DE ROMA
No processo eleitoral do Vaticano 115 cardeais elegeram, entre eles, um novo papa. Alguém elegeu esses cardeais? Evidentemente que não. Eles conduzem uma Igreja de uns 400 mil presbíteros e quase um bilhão de seguidores (fiéis), entre os quais mulheres, que, apesar de maioria, são admitidas na igreja apenas como serviçais. Nenhum desses padres votou para eleger um bispo nem tem direito algum de opinar sobre os candidatos a papa. Vão dizer que no caso se trata de religião, coisas do espírito, tudo é diferente. Não é bem assim. O Vaticano é um estado e reconhecido como tal tem representação diplomática de vários outros estados. O Brasil, por exemplo, mantém embaixador no Vaticano. Tem também um banco central (o IOR) e uma disputa feroz pelo poder vacante.
Do ponto de vista das regras políticas que servem de paradigmas para definir as democracias ocidentais e cristãs, o Vaticano é a mais típica e prolongada das ditaduras. O cargo de bispo de Roma, que é também de pontifício ou Papa, além de ser escolhido por um punhado de "iluminados", é por toda a vida. Só perde o mandato por morte. No caso – muito raro - de renúncia, o direito canônico não prevê a perda da condição de representante de deus. Sendo o papa vitalício, após a fumacinha branca veio a proclamação: habemus papi.
O direito canônico (a constituição deles) determina a infalibilidade do papa. Isso significa que as ordens ditadas por ele têm que sem cumpridas sem discussão. Por isso, após a escolha, todos os seus eleitores juram se submeter à palavra do papa. Muito democrático, não é?
Nesta democracia do Vaticano, patriarcal e machista, quem desobedecer ou contrariar a palavra (leia-se vontade) do papa é imediatamente castigado, senão com a excomunhão, com "cale a boca e fique quietinho no seu canto", como ocorreu com o teólogo brasileiro frei Leonardo Boff. Não faz muito tempo, o castigo poderia ser bem maior. O museu da inquisição em Lima deixa qualquer pessoa, até mesmo da Operação Condor, horrorizada com a crueldade dos instrumentos de tortura. Para os mais recalcitrantes em aceitar a palavra infalível do papa, o castigo era a fogueira. Hoje existem outros métodos menos explícitos.
Apesar de minúsculo, o Vaticano possui uma das maiores fortunas do mundo. Suas propriedades se estendem por quase todos os centros urbanos, notadamente nas metrópoles cuja história se desenvolveu mais ou menos paralela à do Vaticano, ou Igreja de Roma. O IOR, ou Banco do Vaticano, é o banco preferido pela máfia italiana e por quantos se enriquecem com negócios ilícitos. Os investimentos do Vaticano estão no mercado financeiro, petróleo, comunicação, indústria bélica, aluguel de imóveis e tudo que possa gerar lucro. Os grandes especuladores financeiros e os portadores de dinheiro ilícito operam em paraísos fiscais como Bahamas, Luxemburgo, Mônaco, entre tantos, e o próprio Vaticano e seus bancos filiados (lembre-se do Banco Ambrosiano). Por que ninguém se atreve a levantar os ativos do Vaticano?
Toda a conquista territorial e política de extermínio das populações nativas de Nossa América foi feita em conluio com a Igreja de Roma. Ao longo da história, todas as ditaduras, das mais cruéis às mais brandas, massacraram seus povos com o beneplácito do Vaticano. Toda política de saqueio e genocídio do colonialismo europeu foi realizada com as bênçãos pontifícias. Que democracia é esta?
ESTADOS UNIDOS
Nos EUA, já sua primeira constituição dizia que os governantes deveriam ser brancos e ricos. O desenvolvimento capitalista que conduziu à potência que o país é hoje manteve esse princípio. Para se chegar ao estado de bem estar que deveria servir de modelo para o mundo, correu muito sangue dos trabalhadores reprimidos, perseguição ao diferente, exclusão social, racismo e saqueio das riquezas e da força de trabalho das nações em desenvolvimento.
Nos Estados Unidos, só tem chance de se eleger para qualquer posto executivo ou legislativo quem tem muito dinheiro e for ungido com o apoio de um dos partidos do status quo. O processo passou por aperfeiçoamentos que tornaram suas eleições bem mais democráticas que as do Vaticano, mas tão elitista quanto.
Lá, no dia da eleição, o cidadão que quiser comparecer às urnas, vai, vota no seu candidato, mas quem decide o vencedor não será o seu voto e sim o de um Colégio Eleitoral. Antes, para ser aceito como candidato por um dos dois partidos hegemônicos, terá de passar pelas prévias nos principais colégios eleitorais. Existem outros partidos, porém, o custo para uma campanha é tão alto que a realidade que se impõe é a de um bipartidarismo em que as únicas diferenças entre Democratas e Republicanos são de método ou de índole, nunca de princípios ou de concepção de estado e de governo.
Por exemplo, em 2000, George Bush perdeu a eleição para Al Gore pelo voto popular, ganhou no tapetão, isto é, por decisão do Colégio Eleitoral, que é o mesmo que dizer por fraude. O Colégio é integrado por 538 delegados, indicados pelos partidos nos estados, em número proporcional ao peso demográfico, e vence quem obter os votos de 270 delegados. Mas eles mesmos e nossa mídia insistem em que democracia é isso.
Esse modelo, em que dois partidos com a mesma proposta se alternam no poder é o que apregoam como paradigma para os povos de Nossa América. Tentaram impor pela força no Brasil, quando da ditadura civil militar (1964-1985), depois de ter fechado o Congresso e extinto cerca de 16 partidos, criaram o MDB e a ARENA.
ELEIÇÕES NO EQUADOR OBSERVADAS PELO MUNDO
Em meados de fevereiro, os equatorianos foram às urnas para eleger presidente e vice-presidente, os parlamentares à Assembleia Nacional e cinco representantes ao Parlamento Andino. Para vencer no primeiro turno, de acordo com a Constituição, é necessário mais de 40% dos votos e 10% a mais que outros colocados. Não alcançado este quociente, haveria segundo turno.
Tudo foi feito dentro das regras do jogo que qualificam a democracia formal. Fato inédito na história do Equador e de qualquer outro país de Nossa América, para garantir a lisura dessas eleições foram enviados mais de 600 observadores. Além da OEA e da Unasul, o Parlamento Andino, Liga Árabe, União Africana, Associação das Nações do Sudeste Asiático e a União Interamericana de Organismos Eleitorais, além de cerca de 60 personalidades políticas e intelectuais, compondo um contingente de cerca de 300 pessoas.
O presidente Rafael Correa foi reeleito com quase 60% dos votos (57,17%), 34,49% de diferença do segundo colocado, o banqueiro Guillermo Lazo, o preferido da mídia mundial. O empresário Álvaro Noboa Pontón, segundo favorito na torcida midiática, conseguiu 3,72% dos votos.
Confirmado pelo voto popular, Correa agora passou à categoria de "ditador eleito", tal como Chávez. Se a vitória fosse de Noboa, sem dúvida as manchetes diriam que foi "restaurada a democracia" no Equador.
Correa conquistou a confiança do povo por governar com decência, por utilizar os recursos advindos do petróleo e outras commodities em obras de infraestrutura e de redenção social, com ênfase nas áreas de educação e saúde, e também por ouvir as maiorias e minorias. As oligarquias de Nossa América não se conformam com que, enquanto os modelos por eles apregoados estão economicamente estagnados ou cresceram abaixo de 3% nos últimos seis anos, o Equador cresceu 4,3%.
Não é fácil superar os estragos provocados em décadas de desgoverno conduzidos por agentes do capital financeiro especulativo e dos saqueadores das riquezas nacionais. Tal o descalabro que até mesmo a moeda nacional foi substituída pelo dólar estadunidense. Tudo isso com apoio dos meios de comunicação. Meios que se transformaram em partidos e instrumentos da contrarrevolução e do entreguismo. Com tudo isso, a população de mais baixa renda que era de 37,6% em 2006 baixou para 27,3% em 2012.
Por pretender democratizar o sistema de governo e os meios de comunicação, por pretender garantir que cumpram com a Constituição e as leis, que as riquezas minerais e naturais sejam utilizadas em benefício da Nação, e por pretender dar voz às maiorias, e democratizar os meios de comunicação, Rafael Correa passou para a categoria de ditador, por nacionalizar o petróleo, comunista. Ou seja, está sendo tratado pela mídia como se inimigo fosse da democracia. Democracia para quem, cara-pálida?
ELEIÇÕES NA CUBA SOCIALISTA
Cuba realizou eleições para a Assembleia Nacional em janeiro, com mais de 90% de comparecimento. Todos os candidatos de todos os municípios foram eleitos. Em fevereiro, os 612 deputados eleitos elegeram o novo governo, com mandato de cinco anos.
Como o sistema eleitoral e de governo cubano não segue a cartilha da democracia ocidental e cristã, já descritas nos tópicos anteriores, os meios de comunicação, quando não ignoraram o fato, retiraram-lhe importância. Para a mídia, Cuba é simplesmente a ditadura dos Castro. Será mesmo?
Antes disso, em 2011, o VI Congresso do Partido Comunista de Cuba aprovou novas diretrizes para a estratégia de desenvolvimento do país, as quais vêm sendo seguidas pelo governo. Esse congresso revelou fatos de grande relevância que estão a ocorrer em Cuba e escondidos pelos meios de comunicação servis ao Império. O que mais me chamou a atenção foi o componente humano: 50% negros, 50% mulheres e 50% jovens. Fato realmente surpreendente, um grande avanço numa Cuba de origem social machista e elitista governada por brancos.
A composição da nova Assembleia Nacional e do novo governo revela o mesmo fenômeno de ascensão social e renovação etária. A idade média dos integrantes do Conselho de Estado é de 57 anos, 39% são negros ou mestiços e quase 42% mulheres. E percebe-se, tanto nos discursos como na prática cotidiana, que as mulheres se dispõem a aumentar ainda mais a presença nas entidades, em todas as instâncias do país.
Ao ser reconduzido à presidência, Raúl Castro anunciou que este é seu último mandato e que nenhum outro cubano poderá permanecer no poder, seja executivo ou legislativo, por mais de dois mandatos (dez anos). Essa e outras reformas, que dependem de reforma da Constituição, deverão ser aprovadas em plebiscito. Justificam com que há que dar lugar às novas gerações e estas não têm o carisma e a legitimidade dos que fizeram a Revolução vitoriosa de 1959.
Todos os meios especulam sobre o futuro de Cuba sem Fidel. O que será de Cuba? Para onde irá Cuba? São perguntas que devem ser formuladas às novas gerações que, formadas pela Revolução, estão ascendendo – sob o silêncio sepulcral dos grandes conglomerados de mídia - às direções dos organismos políticos e de governo.

FHC ao FMI: Caixa, BB e Petrobrás estão à venda | Conversa Afiada

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quarta-feira, 27 de março de 2013

Refinaria Abreu de Lima uma questão de identidade


Abreu e Lima saiu do Brasil em 1818, após a execução de seu pai o Padre Roma (ex-sacerdote que abandonou a batina para casar-se) em1817, devido ao envolvimento deste na Revolução Pernambucana. Naqueles tempos, as Ordenações do Reino não limitavam suas punições aos réus de crime de lesa-majestade, mas impunham-nas até a segunda geração. Sendo um jovem militar em início de carreira, a execução do pai nessas condições sepultava-lhe a carreira militar no Brasil.
Incorporou-se ao exército de Bolívar, com a patente de capitão, e participou das batalhas decisivas da luta de libertação da Venezuela eColômbiaAbreu e Lima é considerado um dos heróis da independência da Venezuela e tem maior reconhecimento nesse país do que no Brasil.
Com a morte de Bolívar, e o não reconhecimento de sua patente pelo governo do General Santander, que o sucedeu, abandonou a Colômbia. Esteve nos Estados Unidos, na Europa e, em seguida, retornou ao Brasil, fixando residência no Rio de Janeiro.
Abreu e Lima é uma figura histórica complexa; mesmo tendo participado ativamente do movimento comandado por Bolívar (de inspiração republicana), ao voltar para o Brasil foi um firme defensor da monarquia brasileira.
Em 1844, retornou a Pernambuco. Foi preso sob a acusação de envolvimento na Revolta Praieira (1848). Em relação a este episódio existem divergências quanto a sua atuação.
Algumas fontes afirmam que ele efetivamente não participou dessa revolta, sendo nela envolvido devido à participação de seus irmãos, razão por que foi depois inocentado dessa acusação. Outras fontes afirmam que ele esteve efetivamente envolvido e que foi posteriormente anistiado pelo governo imperial.
José Inácio de Abreu e Lima, General do Exército ehistoriador.
Em 1867 escreveu os textos As Bíblias falsificadas ou duas respostas a Joaquim Pinto Campos e O Deus dos judeus e o Deus dos cristãos, em que expunha as suas ideias liberais sobre religião, defendendo a liberdade religiosa.

[editar]Publicações e contribuições

Libertado, dedicou-se apenas à literatura ensaísta, defendendo idéias inspiradas no socialismo utópico francês. Publicou, entre outros, os livrosCompêndio de História do Brasil (1843) e O Socialismo (1855).
Também colaborou em vários jornais pernambucanos, entre os quais Diário de PernambucoDiário Novo e Barca de São Pedro.
Foi um dos autores do livro " Reforma Eleitoral- Eleição Direta" organizado por António Herculano de Sousa Bandeira,publicado em 1862

[editar]Sepultamento

Por conta de suas idéias de liberdade religiosa e devido ao fato de ser maçom, o bispo Dom Francisco Cardoso Aires não autorizou seu sepultamento no Cemitério de Santo Amaro, no Recife, sendo o General Abreu e Lima sepultado no Cemitério dos Ingleses, na mesma cidade.

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Como fazer o bacalhau perfeito



O bacalhau impecável pede água gelada no dessalgue e temperatura controlada durante a cocção
Herança da colonização portuguesa, o bacalhau torna ainda mais apetitosa a grande mesa do almoço de Páscoa. Mas, atenção, esse ingrediente também tem seus segredos. Encher a assadeira de azeite para conseguir um produto molhadinho e tenro está longe de ser um truque eficiente.
Muita gente não sabe, mas bacalhau é o nome que se dá ao preparo de salga e secagem do peixe e não à sua espécie. Portanto, o que encontramos no mercado como bacalhau é uma variedade de peixes - em alguns casos de espécies diferentes.
Os tipos de bacalhau variam conforme peso, cor e textura da carne. O mais nobre é o Cod Gadus Morhua (Gadus morhua). É o verdadeiro bacalhau da Noruega, que vive nas águas geladas do Atlântico Norte. Sua carne é clara (branco palha), muito macia e suculenta -- perfeita para qualquer receita.
As peças que chegam ao Brasil variam de 5 quilos a 8 quilos, sendo 55% de lombo, 25% aparas das laterais e 20% de pele. Depois, vem o Ling (Molva molva), que tem postas altas e bonitas, uma carne muito branca que se separa em lascas macias e úmidas. Ideal para receitas de forno, panela ou frigideira. Sua peça é estreita e comprida (quando aberta forma um triângulo) sendo 60% lombo e 15% aparas.
Em seguida, vem o Saithe (Gadus virens ou Pollachius virens). É inferior ao Ling em todos os aspectos. Sua carne é mais escura e amarelada e se desfaz bem em lascas, por isso é ideal para refogados e preparações rápidas que pedem pedacinhos.
O quarto é o Zarbo (Brosmius brosme). O menos nobre dos bacalhaus tem carne não tão clara e mais firme. É ideal para recheios, saladas e bolinhos. Por último, o Gadus macrocephalus. Lembra o Cod, mas apenas no formato.
Como sua carne branquíssima e muito firme não se desfaz em lascas, ele pode ser usado em ensopados de cozimento prolongado, mas o sabor e a consistência não são tão bons, por isso o ideal é cozinhar o lombo e usá-lo desfiado também em recheios e bolinhos.
Antes até de escolher a melhor receita para o ingrediente, é preciso tirar seu sal e hidratá-lo. Assim, o risco de ele chegar à mesa ressecado é sempre grande. Mas nada de pânico. Descobrimos técnicas infalíveis para valorizar o produto e fazer com que se ele desfaça em lascas de tão úmido. Seu prato será o centro das atenções.
O cuidado começa no pré-preparo, um dessalgue correto é o primeiro passo para o sucesso da receita. Muita gente acha que basta deixar o bacalhau de molho e trocar a água de vez em quando, mas não é bem assim. O choque térmico interrompe a eliminação do sal.
O melhor jeito de deixá-lo no ponto, então, é fazer a dessalga na geladeira e nunca variar a temperatura da água , que, muita calma nessa hora, deve ser pouca (o suficiente para cobri-lo e só). Segundo Walter Mancini, a providência garante seu frescor e consistência. “Na água gelada o bacalhau não exala odor algum. Se ficar fora da geladeira, ele pode ficar com cheiro forte e até estragar”, afirma o restauranter.
Outra coisa importante é ficar atento ao tempo do dessalgue – que é diretamente proporcional à espessura do bacalhau . O perigo não é só deixar o peixe muito salgado, mas levar seu sabor água abaixo se a demolha for muito longa. Para não errar, basta acertar seu timer com o de Mancini: “ São 24 horas para postas médias, 40 para as grossas e 48 para as muito grossas”.
Tudo resolvido, hora de aferventar o bichinho. Aqui, a atenção é no ponto de ebulição. “O bacalhau nunca pode ser fervido” , diz Anselmo Neves, proprietário do restaurante Bacalhoeiro, em São Paulo. “As altas temperaturas deixam ele borrachudo como chiclete.”
Quem for utilizar a água de cozimento deve levar o peixe ao fogo em água fria, retirar quando levantar fervura e deixá-lo descansar na panela por 15 minutos, com a chama do fogão desligada. Se a opção for serví-lo com batatas, por exemplo, elas ganharão sabor especial preparadas nesse líquido.
Se a ideia, porém, é descartar a água, a dica é levar o ingrediente à panela assim que ela ferver, cozinhar por quatro minutos e deixá-lo descansando por mais dez, longe do fogo.
Na hora de assar, o perigo iminente: como fazer para o peixe não ressecar? Tem um jeito simples de resolver esse problema. Para evitar servir um bacalhau palha, a temperatura da cocção, seja do forno ou da água de cozimento, não deve ultrapassar os 150 graus centígrados.
E tem mais: nada de tirar espinhas e peles antes do preparo. “Sem a pele ele perde a umidade e tirando a espinha o sabor todo vai embora”, afirma Vitor Sobral, chef do Tasca da Esquina, em Lisboa, Portugal.
O especialista garante que um bom óleo de azeitonas maduras dará o toque final que seu prato precisa. Com tanto capricho o risco será exagerar na dose e comer mais do que devia. Não se preocupe. A data, afinal, prevê excessos calóricos. Só guarde um espacinho para a sobremesa.
Fonte Tribuna da Bahia

terça-feira, 26 de março de 2013

O governo precisa se comprometer com as reivindicações da classe trabalhadora

*) Jacy Afonso

A transformação do crescimento econômico no Brasil em um processo de desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda não é tarefa que pode ser assumida apenas por parte da sociedade. Não chegaremos à posição de país desenvolvido se a voz dos trabalhadores não for ouvida, se suas necessidades não forem atendidas. Isto equivale a dizer que todos os atores sociais devem sentar à mesa para buscar saídas para o aumento da competitividade, para o fortalecimento da indústria nacional, para resolver o problema de infraestrutura, para garantir avanços nas políticas de ciência e tecnologia e de qualificação profissional. Ao mesmo tempo, precisamos mudar a realidade da saúde e da educação no nosso país. Ou elevamos os níveis de renda, de direitos, de proteção e a qualidade de vida do trabalhador brasileiro ou perderemos o trem da história para o desenvolvimento. Estas são pautas imprescindíveis, jamais seremos um país desenvolvido se estes problemas não forem enfrentados. No dia 1º de junho de 2010, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, a CUT e as demais Centrais Sindicais reuniram 30 mil trabalhadores e trabalhadoras para aprovar uma pauta de reivindicações que foi entregue aos candidatos à Presidência da República. No início deste mês em Brasília, na 7ª Marcha da Classe Trabalhadora, as Centrais reapresentaram sua pauta à presidente Dilma. Defendendo desenvolvimento, cidadania e valorização do trabalho, 50 mil manifestantes cobraram redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salário; fim do fator previdenciário; reforma agrária; igualdade de oportunidades entre homens e mulheres; política de valorização dos aposentados; 10% do PIB para a educação; 10% do Orçamento da União para a saúde; correção da tabela do imposto de renda; ratificação da Convenção 158 da OIT que impede a demissão imotivada; regulamentação da Convenção 151 que estabelece a negociação coletiva no serviço público e ampliação dos investimentos públicos.

Em 2012, a CONFETAM, Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal da CUT, produziu uma plataforma para as eleições municipais que foi entregue aos candidatos a prefeito em todo o país. Este documento continha o que eles chamaram de "ideias criativas e viáveis para que as cidades se desenvolvam de forma econômica, social e ambientalmente sustentável". No início do ano a CONFETAM participou do Encontro Nacional dos Prefeitos empossados em 01 de janeiro e reiterou sua Plataforma a Confederação Nacional de Municípios e Frente Nacional de Prefeitos.

Estas ações visaram cobrar o compromisso do governo federal e das prefeituras com as nossas reivindicações. As Centrais precisam agora realizar mobilizações nas capitais. Precisamos cobrar dos governos estaduais este mesmo compromisso

Os trabalhadores e trabalhadoras precisam ocupar todos os espaços de participação para debater e disputar suas reivindicações. Neste sentido, precisamos de uma ação articulada nos Estados. As Centrais Sindicais precisam pautar os Governadores/as, não é possível que as unidades da federação continuem alheias às suas responsabilidades com o projeto nacional.
Um exemplo da urgência de uma ação sindical com mobilização e agenda voltada para os governos estaduais é a implementação do piso nacional da educação. É preciso pressionar governadores e governadoras diante desta vergonha que é a falta de compromisso com a Educação Fundamental, responsabilidade dos Estados.

A terceirização é outro problema grave, cuja falta de regulamentação decente permite que se precarize as relações de trabalho e se explore o trabalhador. Não podemos aceitar que os governos estaduais continuem privatizados serviços essenciais como a saúde. Precisamos exigir dos nossos governos o compromisso com o fortalecimento do SUS, o trabalhador brasileiro não pode mais viver à sorte da saúde privada. É obrigação dos Estados garantirem uma rede secundária de atendimento à população com hospitais e clínicas em quantidade e com qualidade à altura de um país que hoje é a 5ª economia mundial.

Outro problema que impede o brasileiro de viver com dignidade é a falta de segurança pública. Em São Paulo, no Estado mais rico da federação, o número de assassinatos aumentou 40% no ano de 2012. A ausência de uma política de lazer, de programas educacionais, de investimentos em infraestrutura como iluminação, pavimentação, construção de equipamentos públicos para atendimento à população, entre outros, transformam as periferias das grandes cidades em laboratórios onde o crime organizado estabelece uma dinâmica econômica e social própria, ocupando os espaços onde o Estado se omite e impondo à população local a situação de refém da violência.

Não haverá mudança efetiva e não alcançaremos o tão sonhado desenvolvimento sustentável se o Estado não assumir um compromisso efetivo com a centralidade do trabalho na construção de uma nação soberana, rica e justa. Não existe riqueza sem trabalho, não existe desenvolvimento sem distribuição da riqueza produzida, não existirá equilíbrio social enquanto o Estado não contemplar este ator social chamado trabalhador brasileiro.

(*) Secretário de Organização e Política Sindical da CUT Nacional
Fonte: Portal BRASIL 247"

Vigia de rua consegue reconhecimento de vínculo de emprego

         A crescente criminalidade e a sensação de insegurança têm elevado a contratação de segurança privada clandestina. Muitas vezes um grupo de moradores se reúne e contrata informalmente um vigia de rua que recebe um valor mensal, rateado por todos os contratantes. A estimativa do Sindicato das Empresas de Segurança e Vigilância (SINDESP-MG) é de que já são 60 mil profissionais irregulares em Minas. Em contrapartida, os profissionais habilitados são cerca de 30 mil.
Mas qual é a natureza jurídica desse trabalho? Ao analisar o caso de um vigia de rua, a 6ª Turma de TRT-MG entendeu que a relação é típica de emprego, nos moldes do artigo 3º da CLT. Nesse contexto, decidiu confirmar, por unanimidade, a sentença que reconheceu o vínculo entre o trabalhador e um condomínio informal, condenando uma das tomadoras dos serviços ao cumprimento de obrigações próprias da relação de emprego.

No caso, o reclamante ajuizou a ação apenas em face de uma loja situada na área que ele vigiava. Para o relator, desembargador Jorge Berg de Mendonça, isso não é problema, pois cabe à parte autora eleger contra quem vai demandar em juízo. "Nada impede que o autor busque receber seus direitos apenas em face de quem ele considere seu verdadeiro empregador direto", destacou. Analisando as provas do processo, ele constatou que o vigia trabalhava pessoalmente para a loja e para mais alguns vizinhos, recebendo pagamento de todos. O trabalhador, inclusive, tinha acesso parcial ao estabelecimento da ré, não acreditando o relator que não se sujeitasse às ordens dela.

Em seu voto, o magistrado lembrou que o trabalho subordinado é a característica principal da relação de emprego. Ele se verifica quando prestado em favor de alguém que paga o salário combinado e dispõe da força de trabalho contratada ou a utiliza em seu empreendimento, cujos riscos assume. Nessa linha de raciocínio, considera-se empregador quem contrata e remunera diretamente um vigia noturno, para proteção de seu patrimônio. Se a vigilância é feita a partir de postos situados nas imediações e o trabalho é prestado para outros vizinhos, isso pouco importa, no entendimento do julgador. "Os pressupostos da relação de emprego, no caso, estão estabelecidos, diretamente com o empreendimento em proveito do qual a vigilância foi feita", registrou na decisão.

A relação de emprego entre as partes ficou evidente. Seja por presunção, advinda do fato de a loja ter reconhecido a prestação de serviços durante certo tempo, sem prova de qualquer autonomia. Seja pela prova, que revelou que a prestação de serviços se revestia dos pressupostos exigidos para tanto (artigo 3º da CLT). O relator não teve dúvidas de que o vigia trabalhava pessoalmente e se subordinava às ordens dos tomadores, inclusive quanto ao cumprimento de horários. Conforme ressaltou, o caráter empregatício se deu em relação à reclamada e aos demais tomadores. A subordinação mais tênue foi considerada normal, diante da peculiaridade da função. "Ora, não era de se esperar que a ré precisasse permanecer no local emitindo ordens para o autor, pois a função é simples e, do contrário, a presença da contratante tornaria desnecessária a proteção patrimonial a que o autor se destinava", ponderou.

A existência de um condomínio informal foi reconhecida no caso, aplicando-se, por analogia, a Lei 2.757 de 23 de abril de 1956, a qual excluiu do trabalho doméstico os porteiros, zeladores, faxineiros e serventes de prédios de apartamentos residenciais, desde que a serviço da administração do edifício e não de cada condômino em particular. Portanto, o vigia não foi considerado doméstico.

Por fim, o relator considerou correta a solução encontrada na sentença, que fixou a parcela de responsabilidade da ré em 15% do montante calculado sobre os salários. Aplicando o artigo 1.317 do CPC, ele reconheceu que a reclamada se obrigou ao pagamento apenas da parte dela nas obrigações da relação de emprego. "Do contrário, o autor poderia demandar contrato de todos os que o contrataram e receberia o equivalente a "n" salários por uma só e mesma jornada de trabalho, ou pela vigilância de um só conjunto, o que atenta contra a razão", refletiu. O reclamante conseguiu obter ainda a condenação da loja ao pagamento de adicional noturno e reflexos.

Fonte: TRT 3ª Região"

Veja como se prevenir de golpes de estelionatários em bancos



  • Joá Souza | Ag. A TARDE
    Estelionatário abriu conta em nome de terceiro e causa transtornos depois de 13 anos
Treze anos depois de sofrer um golpe de um estelionatário, o estudante de Direito, Arthur Mário Bonfim de Jesus, de 45 anos, voltou a sofrer transtornos com dívidas que não realizou. O rapaz está com nome negativado, com problemas para movimentar a conta em seu banco e não pode sequer adquirir uma linha telefônica móvel. A história dele começou no ano 2000 e aparentemente teria terminado após ele vencer uma ação contra a agência bancária que abriu uma conta em seu nome sem a sua autorização. No entanto, este ano, ele descobriu que tem uma dívida de um cheque com data de 2000.
O problema enfrentado por André não é raro, segundo informações da Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). O superintendente do órgão, Ricardo Maurício Soares, afirma que é cada vez mais comum os casos de pessoas que sofrem problemas com instituições financeiras (bancos, operadora de cartão de crédito ou financeiras de empréstimo pessoal) por conta da ação de estelionatários, principalmente na internet, onde as pessoas fornecem com frequências dados pessoais para cadastros. "Está crescendo muito, sobretudo no ambiente virtual, onde os oportunistas encontram formas de obter dados pessoais", explica.
O responsável pela Delegacia de Repressão ao Estelionato e Outras Fraudes (DREOF), Oscar Vieira Araújo Neto, também pontua que a internet tem sido um meio bastante usado pelos criminosos para obtenção de dados e fraudes bancárias. "Existe uma facilidade pela internet com as compras onde as pessoas fornecem dados com senhas e falsificações de documentos. Os estelionatários conseguem fazer documentos com fornecedores clandestinos", declara.
O caso de André, no entanto, não teve relação com a internet. No final de 1998, ele perdeu o documento de identidade, que continha o número do seu CPF. Meses depois, em abril de 1999, o armador de ferragens Antonio Pereira da Silva, à época com 29 anos, abriu uma conta em nome do estudante de Direito no Banco Itaú. "Ele tirou a minha fotografia do meu RG, colocou a foto dele e plastificou. Providenciou um comprovante de renda e de endereço e abriu a conta. Ele pediu talões de cheque e cartões de crédito", conta André. Segundo a vítima, a dívida chegou a R$ 976. O estelionatário foi preso em 9 de setembro de 2000 com três carteiras de identidade falsas.
Em situações como a de André, a polícia e o Procon indicam que a vítima procure imediatamente uma delegacia e comunique a perda do documento de identificação. "É preciso registrar o Boletim de Ocorrência em uma delegacia em casos de extravio, roubo e furto de documentos", avisa Oscar. Segundo Ricardo, a queixa é essencial para que a pessoa que foi lesada possa comprovar que não tem ligação com a conta aberta e possa dar prosseguimento ao processo caso não haja acordo com a instituição financeira.
Cautela - A instituição financeira é a responsável por verificar a veracidade dos documentos do titular de uma conta, de acordo com Oscar. "Os bancos deviam ter mais cautela", sentencia o delegado. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informa por meio de nota que os bancos devem pedir que o cliente apresente originais e cópias de documentos de identificação, CPF e comprovante de residência no momento da abertura da conta.
André questiona o fato de não conseguir resolver a sua situação junto ao banco. "Estive na agência onde ele [Antônio] abriu a conta. Fui ao gerente de operações, entreguei vários documentos como a queixa da delegacia, o cheque, reportagens da época, depoimento do estelionatário e várias provas de que nunca tive uma conta do Itaú. Ele falaram que iam resolver e até agora nada", reclama o estudante que está há mais de 15 dias aguardando a solução. Ele contratou um advogado para acionar à Justiça. A reportagem de ATARDE entrou em contato com o banco, mas até a empresa não se pronunciou.
Prevenção - É possível tomar uma série de providências para evitar cair nas mãos de um estelionatário, segundo o superintendente do Procon. Ele explica que é preciso evitar fornecer dados pessoais a estranhos ou por telefone e não colocar números de RG e CPF em cupons de sorteio.
Na internet, ele aconselha que as pessoas não se cadastrem em sites que não tenham o cadeado na barra inferior, que não poste número de documentos em redes sociais e mantenham o antivírus do computador atualizado.
Oscar ainda acrescenta que é preciso tomar cuidado em compras virtuais. "É bom buscar informações antes de fazer o negócio, saber se o site é sério e até se entrega as mercadorias", conclui o delegado.

O que fazer em caso de ser vítima de um estelionatário?

Para a vítima que teve uma conta aberta em uma instituição financeira sem a sua autorização e não consegue resolver o problema, o Procon indica os seguintes passos devem tomados:
1. Registre um Boletim de Ocorrência para informar a ocorrência da fraude;
2. Registre um protocolo no banco ou operadora de cartão ou financeira de empréstimo pessoal solicitando a suspensão do uso e guarde o número;
3. Vá até a sede do Procon, localizado na Rua Carlos Gomes, 746, ou nos postos do órgão no SAC;
4. Aguarde o contato que o Procon irá manter com a instituição financeira para resolver a questão por via administrativa
5. Caso a questão não seja resolvida, o Poder Judiciário deve ser acionado e a vítima pode receber uma indenização por danos morais e materiais se comprovar o descuido do agente financeiro.
Fonte Jornal Atarde

segunda-feira, 25 de março de 2013

Novo estatuto da segurança privada pode valer já para a Copa

Valor Econômico 
 

O Ministério da Justiça concluiu a discussão de um novo Estatuto da Segurança Privada, para regular a atividade de mais de 2 mil empresas e 700 mil vigilantes em atuação no país - um contingente maior que o das polícias federal, civil e militar de todos os Estados, que juntas somam 500 mil integrantes.
O texto passa agora por uma avaliação jurídica na Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e depois seguirá para a Casa Civil. O governo pretende encaminhar um projeto de lei ao Congresso até o fim de março. "Tivemos um intenso debate com todos os setores, chegamos a um consenso quanto a alguns pontos e, em outros, o Ministério da Justiça arbitrou, submetendo o texto agora à Fazenda", diz o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Marivaldo Pereira.
A expectativa é que o estatuto já seja aplicado em grandes eventos, como na Copa do Mundo de 2014, cujas operações de segurança privada nos estádios, por exemplo, estariam sujeitas às novas regras.
A segurança privada envolve áreas como vigilância patrimonial (em prédios públicos e privados ou eventos sociais), transporte de valores, escolta armada e segurança pessoal. No Brasil o setor movimentou mais de R$ 30 bilhões no ano passado. Apesar do tamanho relevante da atividade, a legislação atual (Lei 7.102, de 1983) é considerada ultrapassada.
Uma das novidades do novo estatuto é criminalizar o ato de organizar, prestar ou oferecer atividade de segurança privada clandestina, que estaria sujeita a pena de dois a quatro anos de prisão, além de multa. O uso da vigilância privada em locais não permitidos - como no policiamento ostensivo das ruas, que está a cargo da segurança pública - resultaria em pena de três meses a dois anos de prisão.
O texto também regula a atuação de empresas de sistemas eletrônicos de segurança, que operam em áreas sensíveis como o monitoramento de imagens e sinais de alarme, detendo informações confidenciais dos clientes. "O setor se expandiu muito, mas não conta com nenhuma base de regulamentação", diz Pereira.
O texto elaborado pelo Ministério da Justiça traz requisitos mínimos de equipamentos para as agências bancárias, como a instalação de portas de segurança, câmeras e alarmes - um ponto que gerou divergências entre representantes de trabalhadores e bancos. O capital social mínimo para criar uma empresa de segurança, atualmente de R$ 100 mil, deve subir para em torno de R$ 200 mil.
O projeto também estipula requisitos para que as empresas arquem com eventuais passivos trabalhistas, exigindo medidas como provisão ou seguro. Uma situação recorrente, inclusive nas terceirizações feitas pela administração pública, é de empresas de segurança que deixam os funcionários na mão.
"Lidamos no dia a dia com empresas que quebram e desaparecem", diz o presidente da Confederação Nacional dos Vigilantes, José Boaventura Santos. "O estatuto fará com que os tomadores sejam mais criteriosos nas contratações e que os clandestinos saiam da informalidade e honrem seus compromissos", afirma José Jacobson Neto, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Vigilância (Abrevis), que reúne 220 associadas.
Um ponto polêmico, porém, ainda está em aberto: a participação de capital estrangeiro nas empresas de segurança. A lei atual proíbe companhias estrangeiras de atuar no país, com a exceção de três gigantes internacionais. A americana Brinks e a espanhola Prosegur operam com base em regras anteriores a 1983. Recentemente, a G4S, maior empresa de segurança do mundo, conseguiu uma autorização para comprar a Vanguarda Segurança, de São Paulo, de olho nas demandas da Copa do Mundo e da Olimpíada - um assunto que vem gerando bastante controvérsia no setor.
Embora o governo ainda não tenha batido o martelo, a tendência é que o novo estatuto flexibilize a entrada de capital, mas sem permitir o controle de fora. A Abrevis defende que os estrangeiros sejam autorizados a entrar com até 49% do capital social.
As empresas de segurança privada que atuam no Brasil estão sujeitas ao controle da Polícia Federal e precisam de alvará específico para funcionar, renovado anualmente. A segurança privada em geral se limita à atuação da calçada para dentro de um imóvel, pois a vigilância das ruas é tarefa exclusiva da polícia - a não ser em casos específicos como na escolta de cargas e no transporte de valores.
Para atuar como vigilante, é necessário passar por um curso autorizado pela PF e fazer uma reciclagem a cada dois anos. No novo estatuto, os requisitos de formação profissional se tornam mais rígidos. A segurança desarmada também estaria sujeita às novas regras, seguindo determinações de portarias recentes da PF. A modalidade é preferida para locais com grande número de pessoas, como nos grandes eventos.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Publicada em 15/03/2013 às 08h29. Atualizada em 15/03/2013 às 09h46 Técnicos negros têm pouco espaço no futebol brasileiro; racismo?



Lula Pereira comandou o Bahia em 2003 e no ano de 2006
O racismo é tabu no Brasil. Pouco se fala, muitos fingem não ver. No futebol, da mesma forma como acontece na sociedade, o problema existe e raramente é discutido de maneira ampla. "Me desculpe, você é preto" é o título de uma matéria que faz uma reflexão sobre o assunto na edição deste mês da revista Placar. O texto traz o desabafo de treinadores negros, cada vez mais raros no alto escalão do futebol brasileiro, e tem como personagem principal Lula Pereira, ex-técnico do Bahia, e que diz ter ouvido de cartolas a frase que serviu como chamada da reportagem. Pegando o gancho, o iBahia Esportes resolveu aprofundar a discussão e falou com profissionais atuantes no futebol baiano, desde dirigentes atá treinadores.

De cada um dos procurados pela nossa reportagem, uma recepção e uma percepção diferente acerca do assunto. O primeiro a falar foi Paulo Isidoro, ex-meia-atacante da dupla Ba-Vi e atualmente auxiliar técnico do Ypiranga. Avançado no curso de formação de treinadores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o ex-atleta revelou incômodo com a falta de discussão sobre o tema.

"Eu esperava tanto que alguém falasse isso comigo, é algo que me incomoda muito. O futebol brasileiro sempre teve vários destaques negros em campo, o nosso símbolo é negro (Pelé), mas fora de campo isso não acontece. Não sei se é preconceito, má qualificação... Acho que é um pouco de cada, acho que se você se qualificar bem, se você buscar aquilo que você quer, acho que você alcança. Mas às vezes é estranho. Olha o Andrade, como é o cara é campeão brasileiro pelo Flamengo, time de repercussão mundial, e depois não consegue trabalho?", questiona.

Primeiro técnico negro campeão brasileiro, Andrade assumiu o Flamengo de 2009 de forma provisória, mas foi efetivado no cargo e conquistou o hexa nacional pelo clube. Porém, acabou demitido cinco meses depois com 73% de aproveitamento. Após ficar sem emprego durante meses em 2010, desabafou em entrevista à TV Globo. "Uns dizem que é por causa do meu vínculo com o Flamengo e outros falam de preconceito. Não existe treinador negro trabalhando na Série A. Alguns amigos me dizem que não estou trabalhando por causa da minha cor. Mas não quero acreditar nisso", comentou na época. De lá para cá, ele só comandou Brasiliense, Paysandu e Boa Vista-RJ.
Paulo Isidoro, ex-Vitória e Bahia, é auxiliar do Ypiranga
"Andrade não foi o escolhido do Flamengo. Foi um acaso, uma solução temporária. Só assim que os técnicos negros têm chance", opinou Lula Pereira à Placar. Ele, que comandou o Bahia em 2003 e 2006, esteve à frente do Rubro-negro carioca em 2002 e está sem clube desde que saiu do Ceará no ano passado. O desabafo também toma como base números. Ao término das Séries A e B do Brasileiro em 2012, por exemplo, apenas um entre os 40 técnicos era negro: Anderson Silva, interino do Ceará no fim de temporada.
História - Gentil Cardoso, único negro a dirigir a Seleção Brasileira, Didi, que comandou a Seleção do Peru na Copa de 1970, e Valmir Louruz, campeão da Copa do Brasil em 1999 pelo Juventude, são alguns dos técnicos que alcançaram o topo da profissão. Mas o número é pequeno se pensarmos que em campo não existe esse desequilíbrio entre brancos e negros presentes.

"Vivemos numa sociedade preconceituosa, de uma falsa democracia. Prega-se um moralismo imenso, mas as atitudades são quase nada. E não seria de se estranhar isso. Acho coincidência demais. A gente carrega isso de goleiros, de que goleiro negro no Brasil não dá. Criou-se uma cultura no Brasil desde o Barbosa (goleiro da Seleção de 1950). Penso que seja realmente uma forma de preconceito. Não é possível que tantos jogadores com qualidade não tenham vingado como técnicos pelo simples fato de serem negros", afirma Janilson Brito, comandante do Juazeiro, segundo melhor time da primeira fase do Baianão 2013.

Mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Henrique Sena, que defendeu a dissertação "Pugnas Renhidas: futebol, cultura e sociedade em Salvador, 1901 -1924", faz uma análise do ponto de vista histórico. "Há uma desigualdade na qual os negros apenas assumem a posição quase que unicamente como jogadores, enquanto que as elites brancas, que ainda são os que comandam o futebol do ponto de vista institucional (dirigem e presidem clubes, associações e federações), assumem as posições intelectualmente privilegiadas. Vale lembrar que a inexistência de negros dirigindo ou treinando clubes de futebol continua a ser legitimada por resquícios de um racismo científico no qual os negros apenas possuem virtudes físicas e corporais como força, velocidade, enquanto que as habilidades do intelecto eram naturalmente associadas à raça branca".
Reportagem da revista Placar do mês de março fala sobre a presença cada vez mais rara de técnicos negros no futebol brasileiro
BaVi - Para dirigentes de Bahia e Vitória, porém, a ausência de técnicos negros nos grandes clubes do país não está atrelada ao racismo. "O número de técnicos negros no mercado é pequeno, são poucos. São poucos os treinadores no mercado em disponibilidade. O Lula (Pereira) trabalhou anos e anos sem nenhum problema. É trabalho, não é a cor. Quem tem que buscar se profissionalizar são as pessoas. O clube não tem culpa, não vejo nenhum preconceito. O número de treinadores no mercado é reduzido. Os negros é que têm que buscar o espaço. Não importa a cor. Se for competente, vai conseguir", acredita Raimundo Queiroz, diretor de futebol do Leão.

Gestor de futebol do Bahia, Paulo Angioni segue o mesmo raciocínio. "Não lembro de algum caso que eu tenha vivenciado, apesar de estar há muitos anos nisso. Em contrapartida, trabalhei com treinadores negros várias vezes. Eu tenho visto alguns caso no futebol europeu, asiático, tenho visto no noticiário... No Brasil já teve oportunidade de acontecer, principalmente dentro do campo, de um jogador xingar o outro, de torcedor, mas não vejo com tanta frequência (racismo) aqui. Não acredito muito nisso".
"É trabalho, não é a cor", afirma Raimundo Queiroz
Angioni: "continuidade não se dá pela cor e sim pelos resultados"
Tanto Angioni quanto Queiroz acreditam que a cor da pele não cria barreiras aos técnicos no futebol brasileiro. "Nos últimos anos tivemos o Lula (Luís Inácio Lula da Silva) como presidente. O Lula é negro. Eu sou um negro. Não vejo nada disso. Acho que o número é reduzido, falta gente tentando buscar o espaço. Cada um tem que mostrar do que é capaz, que é competente. Aposto com você que qualquer negro que aparecer bem vai ter chances", afirmou o responsável pela montagem do elenco do Vitória.

"Acho que a continuidade não se dá pela cor e sim pelos resultados. O Lula (Pereira) já teve oportunidades em grandes massas, como no Bahia e no Flamengo. Respeito muito ele, sou próximo ao Lula, tive várias oportunidades de estar com ele na época do Felipão no Palmeiras da parceria com a Parmalat. Tenho boa relação com o Lula. Respeito a dor que ele está vivendo. É oportuno falar sobre isso, tem o desabafo de um profissional. Tem que acabar com certas coisas que possam gerar um preconceito futuro", pontuou.
Janilson comanda o Juazeiro, 2º melhor time da 1ª fase do Baiano
Quantidade - Na matéria da Placar, o ex-jogador Serginho Chulapa utilizou o argumento de que poucos ex-jogadores negros se arriscam na carreira de treinador para sustentar a ideia de que a ausência de negros na elite do futebol nacional não está diretamente ligada ao preconceito. "Existem grandes ex-jogadores negros com capacidade para treinar. Mas falta interesse do negro. Se não se preparar, não vai ter espaço", defende. O pensamento é compartilhado por outros treinadores, mas com ressalvas. Paulo Isidoro revela que há um desencorajamento que parte até dos companheiros de campo.

"Os jogadores até brincam: 'pô, você vai entrar nessa?'. Aí eu digo, 'se você pensa dessa maneira, aí é que vai continuar do jeiro que está'. Eu tenho essa vontade não só para isso, mas de passar meus conhecimentos e tentar também derrubar essa barreira. Isso é importante, ter alguém que queira bater de frente com isso. É um assunto polêmico. Às vezes as pessoas não entendem. Não sei o motivo. Se eu no caso ficar olhando por esse lado, não vou começar nunca. Alguém tem que tentar. O racismo existe, a gente sabe, mas acho que competência prevalece". Janilson concorda em parte. "Há essa possibilidade, mas a gente viu que alguns tentaram e que não conseguiram ir além. Hoje o mercado é restrito. É algo abstrato".

O historiador Henrique Sena, por sua vez, aponta um outro problema. A falta de negros se arriscando no mercado de treinadores está atrelada a um processo histórico de discriminação. "A relação entre futebol e racismo no país é histórica e não pode ser desconsiderada ou subestimada diante de outros fatores que possam explicar a ausência negra nos cargos de chefia. Não dá pra dizer que não há muito treinadores e dirigentes negros, pois poucos se aventuraram na carreira ou porque os que existem no conseguiram resultados expressivos. Esses próprios motivos devem ser considerados na sua historicidade. Se existem poucos treinadores negros no mercado hoje é porque, durante décadas, muitos deles desistiram ou não sentiram seguros para se aventurar diante de circunstâncias raciais desfavoráveis".
Quinho: "não acredito em racismo, o que existe é classismo"
Classismo - O técnico Francisco Cardoso, o Quinho, chamou a atenção no Campeonato Baiano de 2011. Com um jeito peculiar, comandava o Ipitanga usando terno e palavras em inglês para orientar seus jogadores. Ele também acumulou o cargo de gerente de futebol à época, o qual exerceu no Jacuipense no ano passado. Atualmente ele está à frente de um projeto que atende mais de 300 jovens atletas, o Centro de Formação de Futebol da Bahia. Para o Coach Quinho, como ele costuma se apresentar, o pequeno número de técnicos negros trabalhando em grandes equipes do futebol brasileiro é causado por um duelo de classes.

"Existe um classismo. A palavra classismo significa 'quem é você?'. Quando eu morava nos Estados Unidos, eles não me viam como negro ou branco, mas como profissional à frente deles. Eles viam o que eu produzia, o que eu fazia, não pelo que sou ou pelo que fui. Se, por exemplo, fui um grande jogador no Brasil, tenho possibilidade de ter chance de ser treinador pelo que fiz em campo. Mas isso não significa que eu possa ser bom treinador. O que existe no Brasil... não acredito no racismo, existe classismo: 'Sou bom para caramba, mas sou negro. As coisas não são fáceis por causa da minha cor, mas se for Pelé, as portas vão se abrir'. Tem um pouco de facilidade se você tem status", afirma Quinho.

"Não acredito em racismo neste caso, o que existe é classismo. Você é negão, mora na Boca da Mata, mas você é bom, toda Bahia sabe, mas você mora na Boca da Mata. Você tira esse cara e leva para os Emirados Árabes, você passa a ser o melhor do mundo. Aí aqui o cara começa a respeitar. A imprensa de lá começa a dizer que é bom e o classismo daqui acaba", completa Quinho, que mora no bairro de Salvador citado.

Federação - Único negro no comando de uma das 24 federações estaduais (contando a do Distrito Federal) no país, Ednaldo Rodrigues, que preside a Federação Bahiana de Futebol (FBF), afirmou ao iBahia Esportes que jamais sofreu retaliações pela cor da pele desde que assumiu o cargo, mas revelou um outro tipo de preconceito. "Nunca, jamais aconteceu e não vejo acontecendo. Acho que as pessoas têm que reconhecer nas outras o trabalho, a competência, a educação das pessoas e os valores éticos, os valores morais. Nunca teve comigo nenhum tipo de discriminação. Logo que cheguei na federação teve, por parte de alguns, teve o preconceito da cidade: 'ah, é do interior'. Não existe isso de que para ser presidente da federação tem que ser de tal cidade. Eu simplesmente rechacei, o que tem que ser julgado é o trabalho e idoneidade, não o local ou se a pessoa é pobre, rica", contou Rodrigues, que é natural de Vitória da Conquista.
Ednaldo diz que sofreu preconceito por ser do interior
Sobre a presença de técnicos negros no futebol, o dirigente disse não ter ouvido ou presenciado casos semelhantes ao relatado por Lula Pereira, que afirma não ter conseguido emprego por conta da cor da pele. Por outro lado, ele lamentou e sugeriu que Lula pretasse queixa contra os dirigentes que tenham agido de forma preconceituosa. 

"Isso é um crime. Se existe essa situação, desconheço. Entendo que cada um desses que sofreu preconceito dessa forma deva denunciar através de um órgão competente. Sinceramente, nunca vi alguém chegar e não ter mercado por ser negro, acho que o que tem ser visto é competência e ética, principalmente. Que dirigente foi? Que clube foi? Tem que se dizer para que essas pessoas tenham uma representação. Não vejo no futebol brasileiro onde nós temos isso, justamente no país onde predomina a raça negra. Qualquer um que comete um crime desse tipo deveria ser denunciado, são pessoas que não estão à altura de dirigir nenhum clube ou de administrar nada", pontua.

Ednaldo Rodrigues pede união dos treinadores. "Cabe no momento os treinadores se unirem, eles precisam de uma organização maior. Espero uma associação que possa dar todo um ensinamento, uma doutrina e que essa associaçao possa bater de frente com essa discriminação para que isso não possa se propagar. Se ele (Lula Pereira) está dizendo, tem que identificar".

Situação - Segundo Censo Placar realizado em 1996, entre os 264 jogadores dos 24 clubes que participaram do Brasileirão daquele ano, 79 eram negros, cerca de 30%, e a maioria está aposentada dos gramados, mas nenhum comanda um time de grande expressão atualmente. Nomes como o de Cláudio Adão, que parou em 96, e Cristóvão Borges, que pendurou as chuteiras em 94, por exemplo, estão fora do mercado. Adão se tornou instrutor de atores que encenam jogadores de futebol na TV e no cinema, enquanto Borges está sem trabalho desde que deixou o Vasco no ano passado. De acordo com a matéria da revista, o baiano não quer comentar o tema enquanto estiver sem trabalho. Segundo ele, entretanto, o período sem emprego é opcional, pois ele teria recusado propostas.

Racismo - Queixas como a de Lula Pereira, a que resultou na matéria da Placar, não são acontecimentos isolados. "A postura de Lula Pereira, independentemente das suas qualidades enquanto treinador, é um reflexo da reação ativa ao racismo mascarado da nossa sociedade e do nosso futebol. Da mesma forma que conquistaram historicamente um espaço legítimo e justamente reconhecido na prática do futebol seja pelas virtudes físicas, mas também intelectuais, afinal jogar bolar não é só uma atividade corporal, os negros continuam a lutar por novos espaços no futebol brasileiro, a despeito de todo o preconceito e discriminação racial que ainda existe na nossa sociedade pretensamente 'harmônica'", explica Henrique Sena, autor de artigos sobre a história do futebol em Salvador e doutorando em História pela Universidade Estadual Paulista.

Fifa - Em 2011, o presidente da entidade máxima do futebol mundial, o suíço Joseph Blatter, causou polêmica ao dizer, em entrevista à CNN, que não havia racismo no futebol. "Não existe racismo no futebol. Eu acho que o mundo todo está ciente dos esforços que vêm sendo feitos contra o racismo e a discriminação. No campo de jogo, às vezes você fala algo que não é muito correto, mas no final da partida, tudo está acabado e você tem o próximo para se comportar melhor. Nós estamos em um jogo, e no final, nós apertamos as mãos. É isso que acontece", disse. O mandatário da Fifa se desculpou depois da repercussão da declaração, mas não deu a entender que mudou de opinião.